Um prato colorido, com legumes e verduras, é parte importante de uma alimentação saudável. Na Escola Municipal Doutor Pedro Afonso Junqueira, na zona Sul de Poços de Caldas (MG), além de compor o cardápio da merenda, os alimentos se tornam instrumento de aprendizagem para os alunos do sexto ano: parte da disciplina de ciências é prática, com o cultivo de uma horta.
O projeto de plantio é desenvolvido há três anos na escola e, entre um pé de alface e outro de couve, professores e alunos colhem, além das verduras, bons resultados no desempenho na matéria. Com as mãos sujas de terra fica mais fácil entender o que está impresso nos livros. É o que garante Miguel Antônio Gurgel, de 12 anos. “O mais legal é o aprendizado. Porque não tem só um jeito de aprender, que é na teoria, no caderno, fazendo exercício. Mas também na prática. E também é bom porque vai estar ajudando a natureza.”
Para Beatriz Pupo Leal, de 12 anos, o estudo passa a ser também fonte de diversão. “Eu gosto muito. Teve uma vez que eu tava até de tênis branco e eu fui para horta. É tão legal poder estar lá, poder estar mexendo, que aí qualquer coisa você faz pra ir. Não importa se vai sujar, ou se vai dar trabalho.”
O conhecimento prático ajuda a aumentar a quantidade de boas notas nos boletins escolares. Francisco de Assis, professor responsável pela horta, ressalta outros aspectos positivos do projeto. “Eles assimilam melhor. Quando a gente começou a trabalhar com a horta, a gente não tinha trabalhado o gás carbônico, a fotossíntese. Agora eles já lembram que foram lá e viram como plantinha precisa disso tudo.”
“A importância de aprender na prática é o respeito que eles adquirem pela vida. Eles acompanham a mudinha que tinha dois pares de folhas até que, quando passa alguns meses, ela está pronta para ser consumida e fornecer os nutrientes que o nosso corpo precisa”, destaca Francisco.
O espaço de cultivo da horta dinamiza a forma de aprender ciências. Se por vezes os alunos levam para os cadernos o que já aprenderam na prática, por outras, aprendem com o processo inverso. O canteiro das plantas medicinais começou com a pesquisa. Antes de ir para terra, os alunos procuraram entender os benefícios de cada planta. Depois é que foram acompanhar o crescimento das mudas de manjericão, hortelã, bálsamo e arnica, que fazem parte do espaço.
Além da ciência
Com as aulas práticas, os alunos aprendem a matéria e técnicas do cultivo de plantas. Mas, desde a primeira edição, a horta ensina também sobre solidariedade. Para dar início ao plantio, a comunidade do bairro se envolveu em um trabalho voluntário e coletivo. A diretora da escola, Rosane Correa, explica que o resultado surgiu da união de esforços. “Cada um doou um pouquinho. Uma pessoa emprestou uma caminhonete, o outro foi buscar o esterco, outro doou a terra. Os alunos recolheram a terra e as mudas foram doações também”.
Para esta edição, o professor Francisco mobilizou recursos próprios e contou com a ajuda dos alunos para conseguir as mudas que renovaram o plantio. A horta é produtiva durante o ano todo e o que é colhido tem dois destinos. Uma parte é transformada em salada para a merenda dos alunos e a outra é vendida para os funcionários e ajuda a movimentar o caixa escolar.
Multiplicação da ideia
Os alunos que partcipam do cultivo da horta voltam para casa com conhecimento e ainda mais vontade de colocar em prática. Alguns já tinham contato com a plantação dos pais ou avós, mas, depois do projeto, se tornam os protagonistas do cultivo das hortas.
Miguel Antônio Gurgel é um dos alunos mais engajados. Ele ajudou a fazer um espantalho para a horta da escola, prestou atenção nas aulas sobre compostagem e não demorou para convidar os pais para manter em casa o que aprende na escola.
“Quando a minha mãe estava comprando as coisas para ajudar a escola, a gente resolveu fazer uma hortinha lá no fundo de casa. Nós só fizemos esta hortinha mesmo, já fica para gente comer. E eu ajudo mais. Aqui só temos uma aula por semana, mas em casa é todo dia.”
Alimentação saudável
Depois do projeto, os estudantes garantem que passam a gostar mais de comer verduras e legumes. Beatriz Pupo Leal revela que ajudou a mudar os hábitos da família. “Melhorou muito. Lá em casa a alimentação não era tão balanceada, mas agora a gente come bem mais legumes, salada todo dia. Quando vamos no mercado, eu digo pra minha mãe o que é bom de comer. Aí ela compra e a gente acaba comendo melhor.”
A diretora Rosane destaca que os alunos se convencem a melhorar a alimentação desde a primeira edição do projeto. Ela lembra que, depois de cultivarem a própria horta, os estudantes não querem mais saber de pratos sem salada.
“Esses alunos aprenderam a importância de uma alimentação saudável, com a presença de vegetais. A Prefeitura, teve um momento em que passou por um problema, e parou de mandar a salada para a merenda. Então os alunos começaram a cobrar. Eles estavam aprendendo que era importante na sala de aula, tinham a horta. Por saber da importância, se tornaram até mais críticos.”